quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

PQTRLV

Pedro quer ter renda
lucro e vantagem

pedra no sapato de Pedro
nova rota pra mudar o enredo
o desenlace não deve ser azedo
içar velas, avante, sem medo
Paraguaçu, Cachoeira, São Félix
receptores, piratas e hélices
sincretismo na lista Index
tecnologia, amálgama, vértices
vertem-se em versos e siglas
perdem-se em terços e missas
capital investimento, mentiras
a genética ainda é mestiça

viver não é preciso, não
mas ter renda, lucro e vantagem
isso é navegação

não há nada nem ninguém que dobre
a ambição de um Pedro nobre
que descobre através da viagem
como ter renda, lucro e vantagem
a invenção já foi fruto da necessidade
hoje a necessidade é invenção
navegaram e cruzaram mares
só pra tirar vantagem, era a intenção
um caminho descreveu Caminha
“vergonhas tão altas e tão saradinhas”
por aqui devemos entrar com fé
hoje tem inhame e aquele filé

viver não é preciso, não
mas ter renda, lucro e vantagem
isso é navegação

avistado o Monte Pascoal (Pascoal)
quem descobriu o Brasil? (Brasil)
um cascudo não faz mal (faz mal)
na moleira de um gentio (gentio)
dominada a alimária
no próprio solo, pária
várias léguas, que área
da carta eu faço uma vária
a quem interessar possa
pra que tu possa reler e ver
de outro viés, a posse
pequeterrelevê

viver não é preciso, não
mas ter renda, lucro e vantagem
isso é navegação

 “antes dos portugueses descobrirem o Brasil, o Brasil tinha descoberto a felicidade”

Esta foi a última letra que escrevi para este álbum. Ela é decorrente de uma viagem que fizemos para a Bahia, município de Cachoeira – que é citado na letra –, para participar de um festival de música. Lá, nós saímos uma noite para comer e fomos ao local que haviam nos indicado, um bar chamado PQTRLV, que dá título à canção. Segundo os moradores de Cachoeira, tal estabelecimento servia o melhor filé do Brasil, e, de fato, o filé é filé! Eu, curioso que sou, não me contive e perguntei o significado da sigla que dá nome ao estabelecimento. Perguntei o que queria dizer PQTRLV e prontamente fui “corrigido”:
- Não se diz PQTRLV, é ‘pequeterrelevê’! (Na Bahia é assim que se pronunciam as consoantes: f (fê), g (guê), l (lê), m (mê), n (nê), r (rê))
Depois dessa correção, o atual proprietário explicou que aquele bar foi fundado por um senhor cujo nome era Pedro, que, ao chegar a Cachoeira, abriu esse bar com o intuito de ter renda, lucro e vantagem, e daí vem o nome do estabelecimento: Pedro Quer Ter Renda Lucro e Vantagem. Fiquei pensando, é assim desde os primórdios, o homem sempre coloniza um local pensando em renda, lucro e vantagens, e como estava eu na Bahia, local em que se inicia de fato a colonização brasileira, decidi fazer essa letra remetendo ao período da colonização, citando trechos da carta de Caminha, de obras de Oswald de Andrade, que adorava refletir o Brasil parodiando o próprio Pero Vaz, e trazendo ao refrão o poeta português Fernando Pessoa, que dizia que viver não era preciso, mas navegar sim, então tomei a navegação/colonização como a busca por renda, lucro e vantagem que Pedro (não o fundador do PQTRLV, mas o Álvares Cabral) promoveu nesta província de Santa Cruz, a qual vulgarmente chamamos Brasil.
Ah, uma outra curiosidade, em se tratando de Santa Cruz, que, se eu mesmo não citar, passa batida, foi que eu voltei ao PQTRLV sozinho no dia seguinte, para assistir a uma partida de futebol, Sport X Santa Cruz, pela Copa do Nordeste (eu sou torcedor do Sport e isso será melhor elucidado noutra letra mais adiante), e o aparelho que tinha no bar era um receptor desses piratas, que pegam todos os canais pay-per-view sem precisar dar satisfação a operadora nenhuma. Pois bem, essa burlada nas operadoras de TV por assinatura também entra metaforicamente na letra (como uma espécie de renda, lucro e vantagem. Por que não?!) quando eu falo em receptores e piratas – separados por uma vírgula, para que não fossem diretamente mencionados os receptores piratas (aparelhos eletrônicos), mas os receptores e piratas da era das navegações. Viagem!

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