sexta-feira, 20 de novembro de 2015

OITO DEITADINHO

num raro momento de silêncio
tagarelice pausada
canta na garagem um grilo
ninguém gosta de grilos
por/quê?
porque grilos são metrônomos
metrônomos não são interessantes
não para quem canta espontaneamente
não para quem é MPB

com os olhos eu desenho
com os olhos eu digo
e admiro a elegância da presença
intimidadora, é verdade (é bom)
esnobe? é mentira (mal colocado)

quer todas as flores?
dou-lhas
numa colocação pronominal perfeita
pois vale a pena
vale, pois, as penas
cordão... cordel... cárdio...
libera as libélulas

penso em cada detalhe ao deitar
mordiscando o lábio inferior
sorrisinhos de olhos fechados
cabelo bagunçadinho
sinais lado esquerdo
simetria no gargalo
naquele dia eu vi um avião

de quem é a culpa?
de quem é a responsabilidade?
não sei
só sei do olhar exclusividade

e o metrônomo volta a cantar
sem grilos para mim
apenas um elefante a lembrar
o embalo do sono agora vem do quintal
cri... cri... cri... cri...
repeat
para sempre
na medida do universo

deixa o oito deitar

terça-feira, 18 de agosto de 2015

MANÉ GOSTOSO

Novas gerações. Novos brinquedos. Os brinquedos mais requisitados da atual geração são, certamente, os eletrônicos. Videogames 3D, tablets, toda essa aparelhagem que tanto fascina e prende (desvia?) a atenção da molecada século XXI.
Não é difícil encontrar nas redes sociais, que são uma espécie de brinquedo da nova geração, uma geração anterior reclamando das novas brincadeiras. São muito frequentes postagens do tipo “As crianças de hoje nunca saberão o que é infância de verdade”, ou uma imagem de um boneco dos Comandos em Ação junto a uma sacola plástica ou ainda uma fita K7 junto a uma caneta Bic com os dizeres “As crianças de hoje nunca entenderão a relação entre esses objetos”.
Bom, eu acredito em coexistência, não se pode parar no tempo, mas também não se pode negá-lo. Na fotografia, minha filha sendo apresentada a um Mané Gostoso – e que nenhum mané desta geração queira futuramente dar uma de gostoso para cima dela, pois o futuro coroa estará sempre a postos para fazer malabarismos por sua cria (como se tivéssemos controle... ou seria joystick?).
Enfim, deixemos de divagações e partamos para o busílis. Será que a minha filha, quando se tornar mãe – reitero: que o filho não seja de um mané –, vai resmungar sobre os brinquedos dele? Enquanto ele estiver dentro de uma cápsula, cheio de eletrodos, sendo transportado holograficamente para dentro de um software e batalhando na pele de seu personagem, tipo Avatar, ela estará concluindo que as crianças daquela geração não sabem se divertir, pois em sua época se jogava em 3D. Pois é, filha, na minha época era em 3 dedos.