quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

FUZARCA DE NOWHERE

do nada, eu vou à balada
que é abalada, é impregnada
não empregue nada
nem espere que te cures
na fuzarca de nowhere, na balada de nenhures

quem vai querer, quem é que quer?
balada do nada, fuzarca de nowhere
sem compromisso, a não ser consigo
esforço, não meço, eu consigo
sigo o cruzeiro, sozinho no crowd
possibilidades de balde
e de bandeja, ora veja
cabeças e corpos, copos e breja
a vida é balada, sempre de virote
em busca de um inabalável mote
sem norte, sem sorte, também sem noção
hoje a bússola navega pela emoção
tantas substâncias me dão esperança
de um novo dia que nunca se alcança
não dorme e quer mais e quer mais
primeiro tiro, saída do cais

do nada, eu vou à balada
que é abalada, é impregnada
não empregue nada
nem espere que te cures
na fuzarca de nowhere, na balada de nenhures

aspirações, cruzando monções
da calmaria à tormenta, Camões
não descreveria tais situações
de derrotas que partem de convicções
que caem por terra, vão por água abaixo
lá vem novamente, eu despacho
o papo comédia no qual não me encaixo
faço o meu roteiro, pois não sou capacho
só estou sujeito ou submetido
a situações que eu tenha escolhido
arrependido, eu aguento sozinho
na cabeça a ressaca como um porco espinho
e ela só cura com outra por cima
parece mentira, mas esse é o clima
a balada abalada, toda corrompida
e essa fuzarca é minha vida

do nada, eu vou à balada
que é abalada, é impregnada
não empregue nada
nem espere que te cures
na fuzarca de nowhere, na balada de nenhures

me prove o contrário, suicídio lento, legistas a postos
subterfúgio, the walking dead, já estamos mortos
no propósito de curtir, excessos são cometidos
comedidos não somos, enchemos a lata e somos vencidos
nos posicionamos como vencedores, senhores do próprio destino
portando uma granada sem pino
entoando os hinos e fazendo da vida uma ameaça
desde as Grandes Navegações carregamos um vício: a trapaça

Fuzarca de nowhere é um trocadilho com arca de Noé, mantendo a vibe histórica que envolve as navegações (Rumos e rumores, PQTRLV e Homero, que antecedem esta faixa e também tocaram nesse assunto), aqui vai mais uma música que menciona tal situação. Só que agora com um viés um pouco diferenciado. Vou tentar explicar. Eu costumo dizer que Fuzarca de nowhere é uma música para quem já passou dos 30 anos de idade (eu me encontro agora com 36), pois é aquele momento em que o indivíduo se encontra a questionar se toda fuzarca da vida (baladas, curtições, festas etc.) vale a pena – pelo menos eu passei a ver assim depois dos meus 30 –, e ela vem logo depois de Homero, que exalta tal tipo de conduta, a curtição sem limites. Então aqui tentei imediatamente quebrar esse ponto de vista com a metáfora da arca de Noé; não há uma arca nas baladas para salvar, qualquer espécie que seja, do afogamento que o dilúvio de falsas sensações de prazer/poder de uma noitada oferecem. Essa navegação acaba sendo feita numa barca furada. A princípio, eu pensei em Fuzarca de nowhere como título do disco, mas acabei optando por A invenção é a mãe das necessidades pelo fato de dialogar, de certa forma, com a mesma temática desta faixa, porém ampliando a discussão.

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