segunda-feira, 4 de novembro de 2013

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

RESENHA CRÍTICA DE ARTIGO CIENTÍFICO

MAGALHÃES, Hilda Gomes Dutra; SILVA, Luíza Helena Oliveira da; BATISTA, Dimas José. Do herói ficcional ao herói político. Universidade Federal do Tocantins (UFT). Submetido em 16/10/2007, aceito em 26/11/2007. ISSN 1806-5821. Publicado online em 03/12/2007. Ciências & Cognição 2007; Vol. 12: 18-30 <http://www.cienciasecognicao.org>

RESENHA CRÍTICA 
Vitor Lucas Dias Barbosa* 

          Os autores do artigo científico Do herói ficcional ao herói político iniciam seu estudo apresentando embasamento na área de Análise do Discurso (AD) e na perspectiva dialógica de Bakhtin. Postos esses pilares que irão fundamentar a pesquisa, partem para uma análise alusiva entre realidade e ficção, literatura e política, no que se refere, mais especificamente, ao herói ficcional (literário) e ao candidato a cargos políticos. O artigo se desenvolve inicialmente numa perspectiva genérica, partindo “do pressuposto de que a arte literária, mais do que um simples documento estético de um povo, materializa os valores ideológicos que sustentam a cultura de um determinado grupo. Acreditando nisto, podemos entender a produção literária como um termômetro para se compreender a consciência política de um grupo social, o que pode ser observado não apenas no tipo de literatura que essa sociedade produz, mas principalmente na natureza dos textos que ela consome.” (p. 19), para depois lançar um olhar mais específico, ao longo do artigo, ao analisar a campanha para a eleição do governador do Estado de Tocantins em 2006. 
          
          Na segunda parte do artigo, intitulada As determinações do discurso, os autores buscam bases teóricas, em autores como Althusser, Foucault, Mussalim, Orlandi e Heliane de Castro, para corroborar as relações entre discurso e poder, ideologia e valores. Essas relações se mostram importantes como antecipação da analogia, pretendida no artigo, entre o herói literário e o “herói” político, que passa a ser efetivamente discutida na terceira parte: O berço do herói, quando os autores fazem um levantamento histórico do imaginário popular acerca da figura mítica do herói, desde a mitologia greco-latina até a cristã. Os heróis ficcionais são construídos em cima de preceitos morais e éticos, e os “heróis” políticos são produzidos a partir da reprodução desses valores. A discussão nesse momento do artigo suscita o clássico embate entre o bem e o mal, levando em conta que eles são definidos por ideologias e valores sistematicamente pré-estabelecidos para favorecer as bases do poder sócio-político, por isso a “encarnação” dos candidatos políticos como figuras heroicas, do bem, contra figuras carregadas de vilania, do mal, seus adversários, que curiosamente também são candidatos. Dessa forma, o (e)leitor é conduzido, “desde a mais tenra infância, por um lento e progressivo processo doutrinário, durante o qual introjeta valores que não são necessariamente os de sua cultura, considerando-os, mais do que normais, desejáveis.” (p. 22). 
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*Graduando em Letras pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL) 
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          Antes de encaminharem-se para as considerações finais, os autores ainda desenvolvem mais duas seções no artigo; uma intitulada Eu tenho a força, na qual há uma analogia entre o personagem He-Man e o candidato político, que “afirma que precisa do voto do eleitor para resolver os problemas do povo, reclama para si a força e a espada mágica de He-Man: eu tenho a força da representatividade, sou, portanto, detentor da legitimidade e das condições para poder fazer.” (p. 23), seção esta que reafirma a anterior, O berço do herói, no que concerne à discussão sobre a origem dos heróis fictícios e a apropriação de suas virtudes por candidatos; e na seção que antecede as considerações finais, intitulada O discurso do anti-herói, é possível observar que os autores realmente passam a discutir a campanha para governador do Estado de Tocantins em 2006, apresentando e analisando os recursos utilizados, como o jingle de campanha, e acabam caindo em contradição com o que foi analisado ao longo do artigo. 

          Ora, se durante a pesquisa seus autores apresentaram que o eleitor passa por um processo doutrinário que o conduz na escolha de valores, que não sejam parte necessariamente de sua cultura, assim considerando-os normais e até desejáveis (vide citação da p. 22), na penúltima seção eles afirmam que “A construção de uma figura heroica (...) não prevê um sujeito que manipula onipotente a massa de cidadãos indefesos, mas negociação, como porta voz do que naquele momento se edifica para estes como poder e esperança. Assim, ao pretender manipular o outro, o sujeito é também por este manipulado, a ele também se submete.” (p. 25). Dessa forma, na última seção do artigo: Considerações finais, concluem o trabalho com uma série de perguntas – “(as figurações heroicas) não são o alimento de que precisamos para suportar o banal, o ritual rotineiro e a insignificância de nossas vidas íntimas e privadas? Poderíamos viver sem as figurações heroicas? Por que as figurativizações heroicas ainda fazem sentido na vida do homem contemporâneo?” (p. 28) -, que, além de cair em contradição com o que inicialmente fora analisado de uma forma, e toma outra à medida que o artigo se encaminha para a conclusão, não conclui objetivamente, visto que o artigo tem seu desfecho com indagações que não sugerem respostas.