quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

HOMERO (f)eat Pedro Luís

naveguei os sete mares
enfrentei alguns problemas
pela terra e pelos ares
naquele global esquema
você veja bem na manha
como é vasto esse leque
cerveja na Alemanha
pra começar o pileque
dali mesmo da Europa
dei um pulo lá na Rússia
naquele frio tomei vodka
pra coisa não ficar ruça
contornei a Torre Eiffel
com o meu 14 bis
na França tomei champanhe
a essa altura, eu tô feliz
molho branco ou tarantela
tô legal, tô bonitinho
plantei uva na Itália
e degustei aquele vinho

beberemos lactose insana
falaremos um novo idioma
comeremos carne humana
atingiremos o topo do bioma

no éter ou no álcool, no diesel, gasolina
eu busco combustão pra abastecer a minha rima
nos cinco continentes, eu vou cair de língua
e quem não embarcar minha poesia deixa à míngua

origami, samurai
arigato, sayonara
tomei saquê dos arrozais
lá na terra do mangá
naveguei pelo Caribe
e não é pra qualquer um
encontrei o Jack Sparrow
e com ele tomei ron
na América Central
o terror é zapatista
banda de limão e sal
guela abaixo uma tequila
mais abaixo uma carinha
no Brasil foi que desci
tomei uma caipirinha
e daqui jamais saí
meu homérico pileque
separou foi a pangeia
seja conhaque ou uísque
o que vale é a odisseia

beberemos lactose insana
falaremos um novo idioma
comeremos carne humana
atingiremos o topo do bioma

Homero é uma letra que faz evidente referência ao poeta grego Homero, autor de Ilíada e Odisseia. Cito aqui o “pileque homérico”, expressão cunhada por Chico Buarque, também em referência aos épicos de Homero, que alude ao grande herói Odisseu e suas aventuras alcoólicas depois de grandes conquistas. Portanto, ao escrever uma letra que apresenta um indivíduo que degusta a principal bebida de cada lugar do mundo ao visitá-los, decidi intitulá-la de Homero. Pelo fato de a base ter uma pegada funk carioca, chamei Pedro Luís para participar da faixa, tanto pela referência musical do Rio de Janeiro (algo que Pedro faz muito bem) como por ter observado comentários dele na internet a respeito do meu trabalho.*
Esta é uma letra muita antiga que ficou guardada por mais de uma década e só agora consegui materializá-la. Outra curiosidade é o refrão, que não existia na letra original de mais de uma década. Compus tal refrão recentemente, quando tive a resposta positiva de Pedro Luís sobre participar do disco novo. Inspirei-me na Dança da vaca louca, música de um grupo chamado Boato, do qual Pedro fazia parte antes de ser Pedro Luís e A Parede. A Dança da vaca louca tem um trecho que diz “O turista lusitano / Que sabia não falar inglês / Ingerindo carne gringa / Disparou no idioma anglo-saxão / Futuristas de Milão / Levantaram do seu leito eterno / Requerendo a patente dessa antropofagia / Para o movimento moderno”, ou seja, aí tem tudo que interessa a este compositor que vos escreve e, escancaradamente, foi uma grande influência para mim. A partir disso, refleti que falaremos um novo idioma e ao devorar carne humana (antropofagia) atingiremos o topo do bioma, e a lactose insana não é oriunda da vaca louca, mas uma referência ao moloko vellocet (Laranja mecânica), leitinho ingerido para a prática da ultraviolência.
*Como Pedro Luís conheceu meu trabalho? Eu fui a um show do Monobloco, em 2007, no carnaval de Recife e, ao final do show, deixei um disco (o primeiro: Devoração crítica do legado universal, só o protótipo num CDR, dentro de um envelope, ainda não tinha o CD físico original) na mão de um segurança da banda e pedi que entregasse diretamente ao Pedro, funcionou! O disco foi entregue (sou muito grato ao segurança que eu não sei quem é até hoje) e, algum tempo depois, Pedro Luís estava falando do meu trabalho. Network roots underground. No final de 2017, conheci-o pessoalmente em Maceió, num show que ele fez com Monobloco. Pedro é um dos meu poetas favoritos.

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