quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

BATATAS (f)eat Ellen Oléria

batatas ao vencedor
ao perdedor, nada

eu não quero pouco
eu quero muito
quero muito mais
como muitos no intuito
de dar o gás
e sair lá do escuro
e ver a luz
do outro lado desse muro
mas o meu caminho, por vezes obscuro
me faz às vezes um tanto que fortuito
jeitinho brasileiro, tudo acaba em carnaval
honestidade por aqui é raridade, passa mal
vamo de pizza? estrangeira ou nacional?
metade de um sabor, metade de outro, que tal?
desce no capricho e põe na conta, por favor
a fatia traga quente e ponha a nota no congelador
derrotado como muitos
preparado como poucos
para a perda, pro sufoco
me levanto, piso fundo
consciente, saio louco
com o olho no futuro
não é por nada não
certamente é por tudo!

já que griot, vai ter cabalah
saia da molecagem, cê vai ter que se virar
coro em manifestação
contra a corrupção
vestindo sua original camisa da seleção
tá aí!
num desce da ponte aérea, miséria faz uma intéra
compra no precinho do dólar e satura a classe média
eu também quero minhas batata, pá
quem acumulou, não chora, divide e cala

batatas ao vencedor
ao perdedor, nada

eu já tô cansado, não me iludo
com esse papo que humilde é ser duro
eu quero é tudo, já disse e digo mais
bunda de fora não, eu quero calça de veludo
não sou do bairro nobre nem do subúrbio
habito o planeta Terra, cidadão do mundo
ando no asfalto, também no barro duro
qualquer logradouro, no raso ou no fundo
preste atenção, tome tento, chegue junto
você tá com fome, mas pode encher o bucho
carroça é pra burro, quero guiar no fluxo
quem não quer sair do lixo e ir pro luxo?
você pode ser servo ou pode ser Augusto
viver livre o ano todo ou só viver a gosto
dos mandos e desmandos do comando injusto
a mi no me gusta, eu mesmo não gosto
“sou senhor do meu destino, capitão da minha alma”
um tropeço aqui não me causa trauma
só me impulsiona e eu já caio lá na frente
e no rolamento me levanto rapidamente

batatas ao vencedor
ao perdedor, nada

Batatas é uma faixa que traz a belíssima participação de Ellen Oléria, vencedora da primeira edição brasileira do reality The voice. Não conheço Ellen pessoalmente, essa parceria foi firmada através da internet. Eu participei de uma faixa do segundo disco do Sacassaia, grupo brasiliense, de onde Ellen é natural, nesse disco, Boca da terra, ela também fez participação, e no momento em que nos foi enviado um e-mail para uma primeira audição, antes do álbum ser lançado, eis que esse e-mail veio coletivo, com o endereço visível de todos aqueles que estavam recebendo a obra em primeira mão, e lá estava o e-mail dela. Catei o e-mail, mandei um argumento daquele jeitinho e ela aceitou participar do meu álbum. Fizemos tudo pela internet, enviei a música e ela me enviou de volta os vocais maravilhosos.
Sobre esta faixa em si, Batatas faz uma referência a Machado de Assis e seu personagem Quincas Borba, um filósofo que desenvolve uma teoria, o Humanitismo, que tem como célebre frase lema: “ao vencedor, as batatas”. Basicamente, a letra fala sobre isso, sobre batalhar para sobreviver. Quem leu o livro, entenderá a analogia. Quem não leu, leia.
Outras referências que aparecem na letra: Lixo luxo, de Augusto de Campos (“quem não quer sair do lixo e ir pro luxo? Você pode ser servo ou pode ser Augusto”) e Invictus, de William Ernest Henley, poema que inspirou Nelson Mandela (“sou senhor do meu destino, capitão da minha alma”).

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