quarta-feira, 7 de maio de 2014

PROVEDOR CELESTIAL

Mensagens aos/dos mortos há muito deixou de ser função de médiuns. Em épocas de épicas hipnoses virtuais, a comunicação com os que já estão off é feita através de marcações. Postagens de lamentação e saudade são feitas com a marcação do nome do indivíduo que se desligou do mundo real (virtual?). Todas essas postagens aparecem no mural e na linha do tempo (in)finita do usuário, que não poderá agradecer à solidariedade compartilhada. Ah, essa tal de homenagem (postagem?) póstuma... Quão interessante seria saber tudo que pensam a seu respeito post mortem, e ainda ter a possibilidade de narrar uma história do além, algo meio Brás Cubas. Despudorados, seríamos capazes de apontar os defeitos, nossos e dos outros, não há mais julgamento para quem já se desconectou. Um monte de canalha que fica se lamentando em público, mas que na memória interna “já foi tarde”. Isso me dá uma súbita dor no estômago e me lembra uma música de um rapper italiano, Fabri Fibra (https://www.youtube.com/watch?v=9M8ILdLElgs), na qual ele simula a própria morte para acompanhar a reação das pessoas. Fazer o backup dos arquivos vivos mais importantes para deixar um legado na nuvem é importante. A não ser que, assim como a Nação Zumbi, banda mais moral desse país de Brás Cubas, metaforicamente previra em 1998, numa canção intitulada Protótipo sambadélico de mensagem digital, possamos utilizar um provedor celestial e curtir e comentar as postagens do outro lado da vida. Não me marquem, aviso logo, não responderei!