sexta-feira, 20 de novembro de 2015

OITO DEITADINHO

num raro momento de silêncio
tagarelice pausada
canta na garagem um grilo
ninguém gosta de grilos
por/quê?
porque grilos são metrônomos
metrônomos não são interessantes
não para quem canta espontaneamente
não para quem é MPB

com os olhos eu desenho
com os olhos eu digo
e admiro a elegância da presença
intimidadora, é verdade (é bom)
esnobe? é mentira (mal colocado)

quer todas as flores?
dou-lhas
numa colocação pronominal perfeita
pois vale a pena
vale, pois, as penas
cordão... cordel... cárdio...
libera as libélulas

penso em cada detalhe ao deitar
mordiscando o lábio inferior
sorrisinhos de olhos fechados
cabelo bagunçadinho
sinais lado esquerdo
simetria no gargalo
naquele dia eu vi um avião

de quem é a culpa?
de quem é a responsabilidade?
não sei
só sei do olhar exclusividade

e o metrônomo volta a cantar
sem grilos para mim
apenas um elefante a lembrar
o embalo do sono agora vem do quintal
cri... cri... cri... cri...
repeat
para sempre
na medida do universo

deixa o oito deitar