segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

BRASIS


O bicho
(Manuel Bandeira – 1947)

Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.

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Debaixo da marquise, famílias inteiras, famílias partidas. Disputando entre si os restos da minha comida. Deliciosa, por sinal. Cara também. Brasil? Eu vi a Somália ali. Lembro-me de um filho do Brasil há dois mandatos vomitando promessas, uma em especial não me saciou – não estava bem temperada, aquela que pronunciava uma mentira faminta pela crença miserável: quatro anos para todas as famílias brasileiras fazerem as três básicas refeições diárias. Insulto à minha inteligência. Oito anos já se passaram desde aquele vômito infame. E ainda hoje me vejo cercado de miséria. Todo mundo sabe dela, todo mundo a vê pela janela, mas quando se vê rodeado por ela, sente a sequela na pele! Foi o que senti. Antagonismo. Paradoxo. Não foi na tela do cinema, foi debaixo do meu nariz. Brasil... Brasis... Feliz país de diversidades culturais. Infeliz país de diversidades sociais. Raspa o prato, menino! Come tudo! Não estraga a comida!

Um comentário:

  1. O Brasil tinha tudo para ser um país perfeito, mas infelizmente a desigualdade é muito grande...e ainda reclamamos da vida né? Quando vi essa foto chega bateu aquela angústia.

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