quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

SUICÍDIO LINGUÍSTICO

A definição básica de ‘verbo’ é: palavra que designa ação. Sendo assim, uma palavra que carrega esse estado gramatical e que me mata de intriga é o verbo ‘morrer’. Se o verbo é a prática da ação pelo sujeito, a não ser que não haja um – como em chover, trovejar etc., o verbo ‘morrer’ me soa como a verbalização do suicídio. Percebe? “Ele morreu!” Ou seja, ele praticou a ação de morrer, o que me leva a concluir que ele o fez querendo.
Particularmente também não me agrada o pronome reflexivo junto ao verbo suicidar. “Ele se suicidou!” Uma pessoa só pode mesmo suicidar a si (mesma (?)), nunca suicidar outra, concorda? Bom, certamente Vladimir Herzog discordaria de mim, mas essa seria uma discussão política e não mais linguística. Prefiro dizer que uma pessoa cometeu suicídio, ou se matou, assim caracterizando a prática da ação de tirar a própria vida.
Outra curiosidade, ainda referente ao suicídio, é sobre quem consideramos suicida. Imagine a seguinte situação: alguém feliz, sem problemas familiares, sem problemas financeiros, enfim, bem resolvido com a vida, que por uma situação trágica (imagine uma bem pesada) é motivado por um impulso desesperado e tira sua própria vida. Você consideraria esta pessoa um suicida em potencial? Ele cometeu suicídio, é certo, mas seria ele um suicida, na categoria daquele que por mais de uma vez já tentou se matar e sempre está tentando, que não é bem resolvido consigo (próprio (?)), tendo motivos ou não? E agora Hamlet?Creio que a Gramática sim deva estar cheia de problemas mal resolvidos e com motivos de sobra para se suicidar a si própria e matar-se a ela mesma! Enquanto não consegue fazê-lo ela vai suicidando a língua num processo tradicional de mumificação. Falo Verissimamente que a Gramática deve apanhar todos os dias para saber quem manda!

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