sexta-feira, 20 de novembro de 2009

INSATISFAÇÃO GERA REBELDIA


A história nos ensina naturalmente que em condições de insatisfação há uma tendência natural ao surgimento da rebeldia. Vários episódios estão nos anais da História nesse sentido. Revolta disso, revolução daquilo. Não há algemas nem chicotes que possam conter a rebeldia que aparece como resposta natural às atrocidades cometidas por quem está no poder.
Bom, aqui estamos diante de mais uma data comemorativa (ou seria comercial?) que celebra o dia da consciência negra, que celebra a morte. 20 de novembro de 1695, é abatido o líder do quilombo de maior resistência anti-escravista do Brasil, Zumbi do quilombo dos Palmares. Pois é, uma data em que através da morte de um líder negro, por circunstâncias convenientes aos herdeiros dos próprios assassinos de Zumbi, há um incentivo ao despertar da consciência dos negros. Como assim? Comemorar a morte de um líder como forma de despertar uma consciência. Consciência de quê? Ah, o foco de resistência foi derrubado, mas nos trouxe direitos iguais. Desde quando somos diferentes para termos que lutar pelos mesmos direitos? E esses direitos, quais são? Cotas universitárias? Porcentagem de vagas em empregos? Propaganda de grandes empresas parabenizando o dia?
Esmola. Migalhas jogadas ao povo como forma de controlar eventuais surgimentos de mais focos de resistência. Devemos lembrar de Zumbi, claro, de sua importância no combate à escravidão. Mas temos que perceber que a verdadeira comemoração está no nascimento da resistência, não em sua morte. O povo que deu a maior parcela de contribuição na construção deste país continua sendo tratado como diferente. Termino me convencendo de que é mesmo. É mais bonito, mais resistente, é mais quente! Não se deixe iludir por paliativos promovidos por sobrenomes europeus, eles querem o controle, querem propor falsas satisfações para que não aflore nossa rebeldia.
É, camará, a casa grande caiu. A senzala foi à forra. Levantaram palácios cercados por muros. Construímos favelas cercadas por morros e grotas. Contrataram segurança. Fizemos a nossa própria. Dispensaram os miúdos no lixo. Fizemos a feijoada que mancha a gravata que será lavada pela negra que iniciou sexualmente o patrãozinho que espancou o mendigo que faz parte do programa governamental. R$ 50,00 pra votar. Votar com consciência. Viva a consciência negra! Comemoremos hoje, pois amanhã é dia de trabalho, de batente, de tronco. Amanhã é dia de branco, viu?

5 comentários:

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  2. Um ótimo texto, professor! Adorei.(especialmente o último parágrafo)

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  3. Ae pirralho, muito bom o texto, valeu...

    Aqui do outro lado do mundo a experiência é forte, nas ruas vejo que muitos não sabem de onde vem a força, outros tentam sugar, eu mantenho a resistência e sigo o caminho sem tirar o sorriso do rosto. Dentro de mim a luta lúcida, firme e forte, sobre a minha cabeça pensamentos de aflição e medo tentando me comprar.
    Se eles algum dia pensaram que tinham nos domesticado, se fuderam, afinal somos canibais na arte de viver.
    Agora estamos acordando ainda mais canibais, famintos, sem medo de nada nem de ninguém, vamos que vamos, sabe por que?
    Que Alagoas não procria escravos:
    Vence ou morre!...Mas sempre de pé

    Abração e saudades,
    Saulo

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