quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Para entupir a cabeça da trupe

Resenha do disco "Pau-Brasil" para um jornal laboratório do Curso de Jornalismo da UFAL, por Victor de Almeida

Se Oswald de Andrade fosse vivo, com certeza, assinaria o Manifesto Pi. Pensado e criado por Vitor Lucas Dias Barbosa, mais conhecido como Vitor Pirralho, o manifesto alagoano e caeté se apóia na idéia do escritor modernista de antropofagia e serve como base para o trabalho do rapper maceioense.
A proposta apresentada em “Devoração Crítica do Legado Universal” (2008) parece mais bem acabada no novo álbum de Pirralho, “Pau-Brasil” (2009). O disco, que foi financiado pelo Projeto Pixinguinha, pode ser considerado uma espécie de trabalho conceitual sobre o índio e seu contato com o português-colonizador. Naturalmente, sem forçar a barra.
Primeiramente, basta reparar o nome das faixas que remetem à temática indígena. Mas não é só o índio que se faz presente na linguagem de Vitor Pirralho, como bom seguidor de Oswald Andrade, o rapper quer é devorar tudo, mas sem deixar de ser tupiniquim. Então, temos a presença do português, do negro africano, da igreja católica e de outros fatores que exerceram influência no período histórico do Brasil colônia.
Em Língua Geral, as rimas se referem à chegada do colonizador e de uma língua comum, geral, relacionando a assimilação cultural ao canibalismo dos índios que habitavam o território. Da mesma maneira, Carne e Aval, Tupi Fusão, Abaporu Self Serve-se, Siga Lá e Extinção Abundante tratam de pontos pertinentes à antropofagia, mistura de raças e línguas.
Não é só mistura de línguas que dá o ‘molho’ no rap do, também professor de literatura, Vitor Pirralho, aspectos culturais como a monogamia, poligamia, censura, preconceito e religião são postos em discussão. Como são os casos de Divórcio, Index, Sinistro, Versos Negros e U.N.I.D.A.D.E.
Polêmicas, protestos, regionalismos, estrangeirismos, universalismos, índios, portugueses, africanos, culturas, religiosidades, antropofagias, raps, reggaes, rocks, beats, digestões e misturas. Tudo isso compõe a Unidade e o discurso de Pirralho.
Caso continue achando que os Manifestos Pi e Antropofágico não façam tanto sentido nos dias de hoje, ouça “Pau-Brasil” e coloque-se no papel de colonizador e de colonizado. Fará todo sentido.

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