quinta-feira, 30 de julho de 2009

INDEX

Letra: Vitor Pi e Beto Brito

Ainda lembro da História
Entre o tempo e a memória
Permaneço, continuo por aqui
Fiquei abestalhado
Fiquei impressionado
Perplexo, pressionado com o que vi
Ninguém imaginava
A chegada de uma esquadra
Do nada, apareceu, veio assim
Sua vinda, cara pálida
Foi um tanto válida
Em termos, posso dizer que sim
Mas também eu te digo
Se tu não tivesse vindo
Bom, não estaria tão ruim
Dizendo algo desse tipo
Eu sei, muitos amigos
Ha, ha! Vão rir de mim
Mas tem dois lados a moeda
Só quero trocar ideia
Pôr em pauta, apenas discutir
A natureza alterada
Doenças espalhadas
Tribos, várias, viram seu fim
Culturas dizimadas
Mulheres estupradas
Riquezas roubadas, e aí?
Por outro lado, seu código
Foi decodificado, é lógico
A ler aprendi
DEVOLVA MEUS LIVROS, POIS MESMO NÃO LIDOS
EU SEI QUE SÃO MEUS
DEVOLVA MEUS CACOS, POIS MESMO QUEBRADO
EU SEI QUE SOU EU
Dentro do monastério
Ronda muito mistério
A sala secreta é bem aqui
Só monges seletos
Têm o acesso
É uma biblioteca que eu vi
Exemplares manuscritos
Sendo revistos
Alguns proibidos, bem assim
O nome da rosa
É o nome da obra
Umberto Eco, esse aí eu li sim
Igreja católica
Censura hipócrita
Monopólio, isso é ruim
Você chegou com uma missão
De salvar um povo pagão
Imposição que foi feita a mim
Só seu deus é o que salva
e purifica a alma?
Calma, eu queria discutir
Mas não teve argumento
Os anos de 1500
Novos tempos, começo do fim
Já que você é todo arte
Vou comer a sua carne
É o que me cabe, mim não tá nem aí
Através da sua chacina
Uma lição você me ensina
Vingança cultural, aprendi
DEVOLVA MEUS LIVROS, POIS MESMO NÃO LIDOS
EU SEI QUE SÃO MEUS
DEVOLVA MEUS CACOS, POIS MESMO QUEBRADO
EU SEI QUE SOU EU

Em mais uma parceria com Beto Brito, que me cedeu os versos que compõem este refrão, escrevi uma letra que trata de um outro episódio vergonhoso protagonizado pela igreja católica ao longo da História, o monopólio de informação. Puxando pela memória, vocês hão de lembrar que além da santa inquisição, da venda de indulgências e coisas do gênero, a igreja tinha um órgão censor que só liberava as obras que não contestassem nenhum de seus dogmas. Foi criada, então, uma lista conhecida como Index Librorum Prohibitorum (índice de livros proibidos) que vetava a divulgação de certos trabalhos de determinados autores. Naquela época não havia ainda a imprensa, então cada exemplar era praticamente único, quando não era único tinha-se uma ou duas cópias manuais do exemplar, acrescidas ou decrescidas de informação conforme fosse o interesse da alta cúpula clerical. Há na letra a citação de uma obra, O nome da rosa, de um escritor italiano chamado Umberto Eco, que relata essa passagem da História. Obra que foi adaptada para o cinema com o mesmo título, no elenco aparecem Sean Connery e Cristhian Slater. E uma curiosidade na construção poética da letra é que todas as palavras que fecham as ideias nos versos da primeira estrofe (aqui, vi, assim, sim, ruim, mim, discutir, fim, aí, aprendi) são as mesmas na segunda.

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