domingo, 20 de novembro de 2016

Coisas que eu já vi e ninguém fez. Aliás, que eu já fiz e ninguém viu. #1

Quando eu comecei a fazer música, classificada como rap, todo mundo dizia – meu pai inclusive – isso aí não vai dar certo, simplesmente porque era rap. Depois que Ney Matogrosso gravou uma música minha, meu pai voltou atrás sobre “não vai dar certo”; a rapaziada do rap continuou, até hoje continua, com o tal “não vai dar certo”, por causa do meu vocabulário e referências literárias. Ainda ouço dizerem que meu som não atinge a periferia e sou chamado de playboy por conta disso, por conta da minha linguagem. Aí hoje temos Emicida, um dos maiores nomes da música rap, que diz assim numa entrevista (quando perguntado sobre as influências dele para começar a fazer o que ele faz hoje, que é rap, né?):

“De repente esses caras começou a pôr o nome de tanta gente nos rap, tanta referência, que eu falei: mano, num tô entendendo nada e eu fiquei curioso, mas num me afastou do baguio, me fez me aproximar do barato. Então eu acho isso, por isso que eu acho que minha música é simples, mas não é óbvia, porque eu gosto que a música comunique, mas eu gosto que a música comunique e tenha um ponto incógnita ali que a pessoa vai ter que levantar a bunda dela e pesquisar sobre o que eu tô falando também.”

Espero que os amigos, a quem eu falei "mermingual", se lembrem de que eu disse isso quando o meu rap foi questionado por ser sofisticado. E Gabriel, o pensador? É ele o retrato de um playboy? Isso é assunto para uma próxima crônica.

Link para a entrevista em que Emicida diz o que transcrevi acima:

2 comentários:

  1. Achei estranha a denominação, mas seguindo o raciocínio... Não é de todo estranho. Ele está em outra posição social mesmo. Classe media alta, acesso a um acervo de conhecimento diferenciado. Isso, porém, não faz do rap dele produção desimportante, ou menos importante que todo o resto, principalmente no que diz respeito às questões/função politica do que ele canta.

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  2. Então... Tava lendo um livro sobre a história do rap e sua função política no Brasil e o rap do GP foi classificado como "rap mauricinho.

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