lucro e vantagem
pedra no sapato de Pedro
nova rota pra mudar o enredo
o desenlace não deve ser azedo
içar velas, avante, sem medo
Paraguaçu, Cachoeira, São Félix
receptores, piratas e hélices
sincretismo na lista Index
tecnologia, amálgama, vértices
vertem-se em versos e siglas
perdem-se em terços e missas
capital investimento, mentiras
a genética ainda é mestiça
viver não é preciso, não
mas ter renda, lucro e vantagem
isso é navegação
não há nada nem ninguém que dobre
a ambição de um Pedro nobre
que descobre através da viagem
como ter renda, lucro e vantagem
a invenção já foi fruto da necessidade
hoje a necessidade é invenção
navegaram e cruzaram mares
só pra tirar vantagem, era a intenção
um caminho descreveu Caminha
“vergonhas tão altas e tão saradinhas”
por aqui devemos entrar com fé
hoje tem inhame e aquele filé
viver não é preciso, não
mas ter renda, lucro e vantagem
isso é navegação
avistado o Monte Pascoal (Pascoal)
quem descobriu o Brasil? (Brasil)
um cascudo não faz mal (faz mal)
na moleira de um gentio (gentio)
dominada a alimária
no próprio solo, pária
várias léguas, que área
da carta eu faço uma vária
a quem interessar possa
pra que tu possa reler e ver
de outro viés, a posse
pequeterrelevê
viver não é preciso, não
mas ter renda, lucro e vantagem
isso é navegação
“antes dos portugueses
descobrirem o Brasil, o Brasil tinha descoberto a felicidade”
Esta foi a última letra que escrevi para este álbum. Ela é
decorrente de uma viagem que fizemos para a Bahia, município de Cachoeira – que
é citado na letra –, para participar de um festival de música. Lá, nós saímos
uma noite para comer e fomos ao local que haviam nos indicado, um bar chamado
PQTRLV, que dá título à canção. Segundo os moradores de Cachoeira, tal
estabelecimento servia o melhor filé do Brasil, e, de fato, o filé é filé! Eu,
curioso que sou, não me contive e perguntei o significado da sigla que dá nome
ao estabelecimento. Perguntei o que queria dizer PQTRLV e prontamente fui
“corrigido”:
- Não se diz PQTRLV, é ‘pequeterrelevê’! (Na Bahia é assim
que se pronunciam as consoantes: f (fê), g (guê), l (lê), m (mê), n (nê), r
(rê))
Depois dessa correção, o atual proprietário explicou que
aquele bar foi fundado por um senhor cujo nome era Pedro, que, ao chegar a
Cachoeira, abriu esse bar com o intuito de ter renda, lucro e vantagem, e daí
vem o nome do estabelecimento: Pedro Quer Ter Renda Lucro e Vantagem. Fiquei
pensando, é assim desde os primórdios, o homem sempre coloniza um local
pensando em renda, lucro e vantagens, e como estava eu na Bahia, local em que
se inicia de fato a colonização brasileira, decidi fazer essa letra remetendo
ao período da colonização, citando trechos da carta de Caminha, de obras de
Oswald de Andrade, que adorava refletir o Brasil parodiando o próprio Pero Vaz,
e trazendo ao refrão o poeta português Fernando Pessoa, que dizia que viver não
era preciso, mas navegar sim, então tomei a navegação/colonização como a busca
por renda, lucro e vantagem que Pedro (não o fundador do PQTRLV, mas o Álvares
Cabral) promoveu nesta província de Santa Cruz, a qual vulgarmente chamamos
Brasil.
Ah, uma outra curiosidade, em se tratando de Santa Cruz, que,
se eu mesmo não citar, passa batida, foi que eu voltei ao PQTRLV sozinho no dia
seguinte, para assistir a uma partida de futebol, Sport X Santa Cruz, pela Copa
do Nordeste (eu sou torcedor do Sport e isso será melhor elucidado noutra letra
mais adiante), e o aparelho que tinha no bar era um receptor desses piratas,
que pegam todos os canais pay-per-view sem precisar dar satisfação a operadora
nenhuma. Pois bem, essa burlada nas operadoras de TV por assinatura também
entra metaforicamente na letra (como uma espécie de renda, lucro e vantagem.
Por que não?!) quando eu falo em receptores e piratas – separados por uma
vírgula, para que não fossem diretamente mencionados os receptores piratas
(aparelhos eletrônicos), mas os receptores e piratas da era das navegações.
Viagem!
Nenhum comentário:
Postar um comentário