enfrentei alguns problemas
pela terra e pelos ares
naquele global esquema
você veja bem na manha
como é vasto esse leque
cerveja na Alemanha
pra começar o pileque
dali mesmo da Europa
dei um pulo lá na Rússia
naquele frio tomei vodka
pra coisa não ficar ruça
contornei a Torre Eiffel
com o meu 14 bis
na França tomei champanhe
a essa altura, eu tô feliz
molho branco ou tarantela
tô legal, tô bonitinho
plantei uva na Itália
e degustei aquele vinho
beberemos lactose insana
falaremos um novo idioma
comeremos carne humana
atingiremos o topo do bioma
no éter ou no álcool, no diesel,
gasolina
eu busco combustão pra abastecer a
minha rima
nos cinco continentes, eu vou cair de
língua
e quem não embarcar minha poesia
deixa à míngua
origami, samurai
arigato, sayonara
tomei saquê dos arrozais
lá na terra do mangá
naveguei pelo Caribe
e não é pra qualquer um
encontrei o Jack Sparrow
e com ele tomei ron
na América Central
o terror é zapatista
banda de limão e sal
guela abaixo uma tequila
mais abaixo uma carinha
no Brasil foi que desci
tomei uma caipirinha
e daqui jamais saí
meu homérico pileque
separou foi a pangeia
seja conhaque ou uísque
o que vale é a odisseia
beberemos lactose insana
falaremos um novo idioma
comeremos carne humana
atingiremos o topo do bioma
Homero é uma letra que faz evidente referência ao poeta grego
Homero, autor de Ilíada e Odisseia. Cito aqui o “pileque homérico”, expressão
cunhada por Chico Buarque, também em referência aos épicos de Homero, que alude
ao grande herói Odisseu e suas aventuras alcoólicas depois de grandes
conquistas. Portanto, ao escrever uma letra que apresenta um indivíduo que
degusta a principal bebida de cada lugar do mundo ao visitá-los, decidi
intitulá-la de Homero. Pelo fato de a base ter uma pegada funk carioca, chamei
Pedro Luís para participar da faixa, tanto pela referência musical do Rio de
Janeiro (algo que Pedro faz muito bem) como por ter observado comentários dele
na internet a respeito do meu trabalho.*
Esta é uma letra muita antiga que ficou guardada por mais de
uma década e só agora consegui materializá-la. Outra curiosidade é o refrão,
que não existia na letra original de mais de uma década. Compus tal refrão recentemente,
quando tive a resposta positiva de Pedro Luís sobre participar do disco novo.
Inspirei-me na Dança da vaca louca, música de um grupo chamado Boato, do qual
Pedro fazia parte antes de ser Pedro Luís e A Parede. A Dança da vaca louca tem
um trecho que diz “O turista lusitano / Que sabia não
falar inglês / Ingerindo carne gringa / Disparou no idioma anglo-saxão / Futuristas
de Milão / Levantaram do seu leito eterno / Requerendo a patente dessa antropofagia
/ Para o movimento moderno”, ou seja, aí tem tudo que interessa a este
compositor que vos escreve e, escancaradamente, foi uma grande influência para
mim. A partir disso, refleti que falaremos um novo idioma e ao devorar carne
humana (antropofagia) atingiremos o topo do bioma, e a lactose insana não é
oriunda da vaca louca, mas uma referência ao moloko vellocet (Laranja
mecânica), leitinho ingerido para a prática da ultraviolência.
*Como
Pedro Luís conheceu meu trabalho? Eu fui a um show do Monobloco, em 2007, no
carnaval de Recife e, ao final do show, deixei um disco (o primeiro: Devoração
crítica do legado universal, só o protótipo num CDR, dentro de um envelope,
ainda não tinha o CD físico original) na mão de um segurança da banda e pedi
que entregasse diretamente ao Pedro, funcionou! O disco foi entregue (sou muito
grato ao segurança que eu não sei quem é até hoje) e, algum tempo depois, Pedro
Luís estava falando do meu trabalho. Network roots underground. No final de
2017, conheci-o pessoalmente em Maceió, num show que ele fez com Monobloco.
Pedro é um dos meu poetas favoritos.
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