ao perdedor, nada
eu não quero pouco
eu quero muito
quero muito mais
como muitos no intuito
de dar o gás
e sair lá do escuro
e ver a luz
do outro lado desse muro
mas o meu caminho, por vezes obscuro
me faz às vezes um tanto que fortuito
jeitinho brasileiro, tudo acaba em
carnaval
honestidade por aqui é raridade, passa
mal
vamo de pizza? estrangeira ou
nacional?
metade de um sabor, metade de outro,
que tal?
desce no capricho e põe na conta, por
favor
a fatia traga quente e ponha a nota no
congelador
derrotado como muitos
preparado como poucos
para a perda, pro sufoco
me levanto, piso fundo
consciente, saio louco
com o olho no futuro
não é por nada não
certamente é por tudo!
já que griot, vai ter cabalah
saia da molecagem, cê vai ter que se virar
coro em manifestação
contra a corrupção
vestindo sua original camisa da seleção
tá aí!
num desce da ponte aérea, miséria faz
uma intéra
compra no precinho do dólar e satura a
classe média
eu também quero minhas batata, pá
quem acumulou, não chora, divide e
cala
batatas ao vencedor
ao perdedor, nada
eu já tô cansado, não me iludo
com esse papo que humilde é ser duro
eu quero é tudo, já disse e digo mais
bunda de fora não, eu quero calça de
veludo
não sou do bairro nobre nem do
subúrbio
habito o planeta Terra, cidadão do
mundo
ando no asfalto, também no barro duro
qualquer logradouro, no raso ou no
fundo
preste atenção, tome tento, chegue
junto
você tá com fome, mas pode encher o
bucho
carroça é pra burro, quero guiar no
fluxo
quem não quer sair do lixo e ir pro
luxo?
você pode ser servo ou pode ser Augusto
viver livre o ano todo ou só viver a
gosto
dos mandos e desmandos do comando
injusto
a mi no me gusta, eu mesmo não gosto
“sou senhor do meu destino, capitão da
minha alma”
um tropeço aqui não me causa trauma
só me impulsiona e eu já caio lá na
frente
e no rolamento me levanto rapidamente
batatas ao vencedor
ao perdedor, nada
Batatas é uma faixa que traz a belíssima participação de
Ellen Oléria, vencedora da primeira edição brasileira do reality The voice. Não
conheço Ellen pessoalmente, essa parceria foi firmada através da internet. Eu
participei de uma faixa do segundo disco do Sacassaia, grupo brasiliense, de
onde Ellen é natural, nesse disco, Boca da terra, ela também fez participação,
e no momento em que nos foi enviado um e-mail para uma primeira audição, antes
do álbum ser lançado, eis que esse e-mail veio coletivo, com o endereço visível
de todos aqueles que estavam recebendo a obra em primeira mão, e lá estava o
e-mail dela. Catei o e-mail, mandei um argumento daquele jeitinho e ela aceitou
participar do meu álbum. Fizemos tudo pela internet, enviei a música e ela me
enviou de volta os vocais maravilhosos.
Sobre esta faixa em si, Batatas faz uma referência a Machado
de Assis e seu personagem Quincas Borba, um filósofo que desenvolve uma teoria,
o Humanitismo, que tem como célebre frase lema: “ao vencedor, as batatas”.
Basicamente, a letra fala sobre isso, sobre batalhar para sobreviver. Quem leu
o livro, entenderá a analogia. Quem não leu, leia.
Outras referências que aparecem na letra: Lixo luxo, de
Augusto de Campos (“quem não quer sair do lixo e ir pro luxo? Você pode ser
servo ou pode ser Augusto”) e Invictus, de William Ernest Henley, poema que
inspirou Nelson Mandela (“sou senhor do meu destino, capitão da minha alma”).
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