Este texto é autoral e exprime exclusivamente em sua
manifestação os ideais do redator. Eu assino o texto e qualquer boletim de
ocorrência que seja necessário.
Há muito discuto a respeito e defendo a produção musical autoral.
Essa é uma bandeira a qual defendo veementemente. Colocarei aqui alguns pontos
de vista sobre esse tema.
É necessário, antes de qualquer coisa, discutir as situações
que permeiam esse universo. Vamos lá. Existem três situações principais a
problematizar: quais as diferenças e semelhanças entre versão, cover e tributo?
Como matéria-prima, alguém deve compor algo. Pronto. Eis o
produto: uma canção. Alguém compõe a letra, alguém compõe a música, às vezes a(s)
mesma(s) pessoa(s) desempenha(m) as duas atividades. Daí alguém vai interpretá-la,
e pode ser que as mesmas pessoas que desempenharam as duas primeiras atividades
executem essa terceira. Assim, autores/compositores e intérpretes se envolvem
diretamente nos processos de criação e execução da canção.
O que pode acontecer também é alguém que não compõe, apenas
interpreta. Há vários casos, muito bem sucedidos, de intérpretes. Vou utilizar
o exemplo de Ney Matogrosso, pois é um exemplo bem próximo. Já tive uma canção gravada por ele (Tupi fusão). A canção em questão tem quatro compositores. A
letra é minha e a música é de três parceiros de banda. Ney Matogrosso
interpretou-a fazendo uso de arranjos próprios de sua banda, porém mantendo as
harmonias e melodias da música original, por isso a canção – interpretada por
Ney – não é um cover, mas uma versão que ficou bem a cara dele. O cover é
quando se executa igual (geralmente sem o conhecimento e/ou autorização dos
compositores).
Em se tratando de executar igual, o que mais acontece no
circuito de entretenimento noturno é a execução de covers (geralmente sem o
conhecimento e/ou autorização dos compositores). Bandas de meninos novinhos, em
sua maioria, que fazem eventos tocando covers, por exemplo, de Pearl Jam,
Nirvana, Blink 182 etc. É natural que se comece pelos covers, pelas bandas que
são influência no início da trajetória, para depois andar com as próprias
canções. Acontece naturalmente. Entretanto, acontece também de os meninos novinhos se
tornarem marmanjos ainda executando clássicos, músicas que vendem, vendem
porque já venderam, porque são clássicas. Esse tipo de banda, a meu ver e ouvir,
é banda de baile. De casamento. De formatura.
Outra coisa é, em meio à apresentação autoral, executar duas
ou três canções clássicas que influenciam a banda, como uma espécie de
homenagem. É diferente. Bem diferente. Há de se pensar também, em se tratando
de homenagens, no que vêm a ser os tributos. Tributo é quando se tem uma banda
que se dedica a executar, o mais próximo possível, as canções, os trajes e
trejeitos, até o timbre da voz de um(a) determinado(a) cantor(a) ou banda
específica. Eu conheço uma banda tributo ao Raul Seixas muito boa. Chama-se
Cachorro Urubu. Há de se considerar também como tributo quando um artista x
deseja prestar homenagem a um artista y, como fez, por exemplo, Zeca Baleiro ao homenagear Zé Ramalho com uma turnê em que ele executava canções do
homenageado. Entretanto sem tentar imitá-lo, nos trajes e trejeitos, e executando
as canções em versões, leituras, interpretações suas e de sua banda, mas, como
já foi falado aqui, mantendo as harmonias e melodias originais. Portanto, é um
tributo-homenagem feito com versões das canções originais e aval do autor.
Há também a paródia. Essa é uma técnica muito interessante.
Eu adoro! Mas neste texto não me aprofundarei nessa vertente, pois ela é um processo
de composição também, mesmo que parta de algo já existente. Em outro momento
talvez eu aprofunde esse e outro tema que também merece atenção, que é o caso
das versões que são feitas de uma língua para outra. The Fevers, por exemplo,
foi uma banda mestra nesse tipo de composição. Sim, composição. A música (harmonias
e melodias) se mantém como a original, mas a letra é uma nova, não é uma
tradução, o que acaba conferindo à canção uma autoria em sua versão. Abre-se
margem a contestação, é claro, mas em outro momento pensarei em esmiuçar isso.
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