Há mais de 30 anos, uma misteriosa rádio opera na Rússia. Ela atende pelo nome UVB-76 e transmite ruídos, mensagens cifradas e sinais incompreensíveis. Sabe-se que está em atividade desde pelo menos 1982, quando foram detectadas suas primeiras transmissões. Seja o que ela for, sobreviveu à queda da União Soviética e perdura até hoje.
Fonte: https://super.abril.com.br/mundo-estranho/o-que-e-a-radio-fantasma-russa-que-so-emite-ruido-branco/
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019
RUMOS E RUMORES (f)eat Ney Matogrosso
de onde vêm
tantos rumores?
ruminando o futuro, quem quer, vai ver
mensageiro do futuro, quem é você?
rumos
e rumores
destino
e controle
a
largada é da pole
os
primeiros são primores
navegam
caravelas
além
da Taprobana
empreitada
insana
faroleiro
na favela
que
hoje observa
binóculos,
lanterna
quem
o passou a perna
previu
a nova era
de onde vêm
tantos rumores?
ruminando o futuro, quem quer, vai ver
mensageiro do futuro, quem é você?
“quem
controla o passado,
controla
o futuro
quem
controla o presente,
controla
o passado”
é
questão de tempo
que
aconteça a previsão
não
importa quem previu
ilibado
ou charlatão
o
próximo capítulo
não
está escrito
mas
prever não é difícil
já
que o homem tem seu rito
de onde vêm
tantos rumores?
ruminando o futuro, quem quer, vai ver
mensageiro do futuro, quem é você?
a
história se repete
a
história se rumina
e a
quem compete
esse
termo, quem assina?
buraco
da memória
tortura
101
no
meio da escória
quem
é você, mais um?
salve-se
do dilúvio
seja
a nova safra
no
pen drive o conteúdo
ao
mar numa garrafa
os
dados ali contidos são
a
respeito de um entrave
pra
doença, a prevenção
digite
a key, a palavra chave
O meu parceiro de
composição, Pedro Ivo Euzébio (Tup), compôs o beat desta música e me enviou,
como de costume, perguntou se eu não tinha uma letra para tal base, eu achei
muito massa o instrumental, mas não tinha nenhum escrito que se encaixasse
prontamente nele, então pedi um mote a ele, que tema ele gostaria de ouvir
naquela base, e prontamente ele me respondeu “apocalipse”. Ok! Como eu já tinha
a ideia de trazer a esse novo álbum o tema da modernidade, o uso e a
interpretação fútil de suas tecnologias, veio bem a calhar. É o apocalipse da
era digital-virtual-tecnológica. Eu tinha uma imagem-conceito em minha cabeça
para este disco, um pen drive dentro de uma garrafa (em alusão a
pergaminhos/papiros que eram lançados com alguma mensagem pelos navegantes) com
uma mensagem do presente/futuro – de forma tecnológica, tendo o pen drive como
representação disso – para alguém ainda no passado, que até então não presenciara
a colonização. Um cruzamento de dois tempos: a era pré-colonial e a era
contemporânea – uma espécie de “de volta para o futuro”. Para tanto, retomei
conceitos distópicos previstos pela literatura há muito, como no livro 1984, de
George Orwell (que já havia sido referenciado no disco anterior), e também
fatos históricos como As Grandes Navegações e toda colonização, linkando, dessa
maneira, à colonização tecnológica que a humanidade vive hoje. Como a parceria
com Ney Matogrosso já havia sido firmada desde o álbum anterior, quando ele
gravou em seu disco, Atento aos sinais, a música Tupi fusão, e pela veia
vanguardista que Ney sempre apresentou, decidi escrever uma letra para ele
interpretar. Assim o fiz e, que privilégio, ele concordou em participar desta.
PQTRLV
Pedro quer ter renda
lucro e vantagem
pedra no sapato de Pedro
nova rota pra mudar o enredo
o desenlace não deve ser azedo
içar velas, avante, sem medo
Paraguaçu, Cachoeira, São Félix
receptores, piratas e hélices
sincretismo na lista Index
tecnologia, amálgama, vértices
vertem-se em versos e siglas
perdem-se em terços e missas
capital investimento, mentiras
a genética ainda é mestiça
viver não é preciso, não
mas ter renda, lucro e vantagem
isso é navegação
não há nada nem ninguém que dobre
a ambição de um Pedro nobre
que descobre através da viagem
como ter renda, lucro e vantagem
a invenção já foi fruto da necessidade
hoje a necessidade é invenção
navegaram e cruzaram mares
só pra tirar vantagem, era a intenção
um caminho descreveu Caminha
“vergonhas tão altas e tão saradinhas”
por aqui devemos entrar com fé
hoje tem inhame e aquele filé
viver não é preciso, não
mas ter renda, lucro e vantagem
isso é navegação
avistado o Monte Pascoal (Pascoal)
quem descobriu o Brasil? (Brasil)
um cascudo não faz mal (faz mal)
na moleira de um gentio (gentio)
dominada a alimária
no próprio solo, pária
várias léguas, que área
da carta eu faço uma vária
a quem interessar possa
pra que tu possa reler e ver
de outro viés, a posse
pequeterrelevê
viver não é preciso, não
mas ter renda, lucro e vantagem
isso é navegação
“antes dos portugueses
descobrirem o Brasil, o Brasil tinha descoberto a felicidade”
Esta foi a última letra que escrevi para este álbum. Ela é
decorrente de uma viagem que fizemos para a Bahia, município de Cachoeira – que
é citado na letra –, para participar de um festival de música. Lá, nós saímos
uma noite para comer e fomos ao local que haviam nos indicado, um bar chamado
PQTRLV, que dá título à canção. Segundo os moradores de Cachoeira, tal
estabelecimento servia o melhor filé do Brasil, e, de fato, o filé é filé! Eu,
curioso que sou, não me contive e perguntei o significado da sigla que dá nome
ao estabelecimento. Perguntei o que queria dizer PQTRLV e prontamente fui
“corrigido”:
- Não se diz PQTRLV, é ‘pequeterrelevê’! (Na Bahia é assim
que se pronunciam as consoantes: f (fê), g (guê), l (lê), m (mê), n (nê), r
(rê))
Depois dessa correção, o atual proprietário explicou que
aquele bar foi fundado por um senhor cujo nome era Pedro, que, ao chegar a
Cachoeira, abriu esse bar com o intuito de ter renda, lucro e vantagem, e daí
vem o nome do estabelecimento: Pedro Quer Ter Renda Lucro e Vantagem. Fiquei
pensando, é assim desde os primórdios, o homem sempre coloniza um local
pensando em renda, lucro e vantagens, e como estava eu na Bahia, local em que
se inicia de fato a colonização brasileira, decidi fazer essa letra remetendo
ao período da colonização, citando trechos da carta de Caminha, de obras de
Oswald de Andrade, que adorava refletir o Brasil parodiando o próprio Pero Vaz,
e trazendo ao refrão o poeta português Fernando Pessoa, que dizia que viver não
era preciso, mas navegar sim, então tomei a navegação/colonização como a busca
por renda, lucro e vantagem que Pedro (não o fundador do PQTRLV, mas o Álvares
Cabral) promoveu nesta província de Santa Cruz, a qual vulgarmente chamamos
Brasil.
Ah, uma outra curiosidade, em se tratando de Santa Cruz, que,
se eu mesmo não citar, passa batida, foi que eu voltei ao PQTRLV sozinho no dia
seguinte, para assistir a uma partida de futebol, Sport X Santa Cruz, pela Copa
do Nordeste (eu sou torcedor do Sport e isso será melhor elucidado noutra letra
mais adiante), e o aparelho que tinha no bar era um receptor desses piratas,
que pegam todos os canais pay-per-view sem precisar dar satisfação a operadora
nenhuma. Pois bem, essa burlada nas operadoras de TV por assinatura também
entra metaforicamente na letra (como uma espécie de renda, lucro e vantagem.
Por que não?!) quando eu falo em receptores e piratas – separados por uma
vírgula, para que não fossem diretamente mencionados os receptores piratas
(aparelhos eletrônicos), mas os receptores e piratas da era das navegações.
Viagem!
HOMERO (f)eat Pedro Luís
naveguei os sete mares
enfrentei alguns problemas
pela terra e pelos ares
naquele global esquema
você veja bem na manha
como é vasto esse leque
cerveja na Alemanha
pra começar o pileque
dali mesmo da Europa
dei um pulo lá na Rússia
naquele frio tomei vodka
pra coisa não ficar ruça
contornei a Torre Eiffel
com o meu 14 bis
na França tomei champanhe
a essa altura, eu tô feliz
molho branco ou tarantela
tô legal, tô bonitinho
plantei uva na Itália
e degustei aquele vinho
beberemos lactose insana
falaremos um novo idioma
comeremos carne humana
atingiremos o topo do bioma
no éter ou no álcool, no diesel,
gasolina
eu busco combustão pra abastecer a
minha rima
nos cinco continentes, eu vou cair de
língua
e quem não embarcar minha poesia
deixa à míngua
origami, samurai
arigato, sayonara
tomei saquê dos arrozais
lá na terra do mangá
naveguei pelo Caribe
e não é pra qualquer um
encontrei o Jack Sparrow
e com ele tomei ron
na América Central
o terror é zapatista
banda de limão e sal
guela abaixo uma tequila
mais abaixo uma carinha
no Brasil foi que desci
tomei uma caipirinha
e daqui jamais saí
meu homérico pileque
separou foi a pangeia
seja conhaque ou uísque
o que vale é a odisseia
beberemos lactose insana
falaremos um novo idioma
comeremos carne humana
atingiremos o topo do bioma
Homero é uma letra que faz evidente referência ao poeta grego
Homero, autor de Ilíada e Odisseia. Cito aqui o “pileque homérico”, expressão
cunhada por Chico Buarque, também em referência aos épicos de Homero, que alude
ao grande herói Odisseu e suas aventuras alcoólicas depois de grandes
conquistas. Portanto, ao escrever uma letra que apresenta um indivíduo que
degusta a principal bebida de cada lugar do mundo ao visitá-los, decidi
intitulá-la de Homero. Pelo fato de a base ter uma pegada funk carioca, chamei
Pedro Luís para participar da faixa, tanto pela referência musical do Rio de
Janeiro (algo que Pedro faz muito bem) como por ter observado comentários dele
na internet a respeito do meu trabalho.*
Esta é uma letra muita antiga que ficou guardada por mais de
uma década e só agora consegui materializá-la. Outra curiosidade é o refrão,
que não existia na letra original de mais de uma década. Compus tal refrão recentemente,
quando tive a resposta positiva de Pedro Luís sobre participar do disco novo.
Inspirei-me na Dança da vaca louca, música de um grupo chamado Boato, do qual
Pedro fazia parte antes de ser Pedro Luís e A Parede. A Dança da vaca louca tem
um trecho que diz “O turista lusitano / Que sabia não
falar inglês / Ingerindo carne gringa / Disparou no idioma anglo-saxão / Futuristas
de Milão / Levantaram do seu leito eterno / Requerendo a patente dessa antropofagia
/ Para o movimento moderno”, ou seja, aí tem tudo que interessa a este
compositor que vos escreve e, escancaradamente, foi uma grande influência para
mim. A partir disso, refleti que falaremos um novo idioma e ao devorar carne
humana (antropofagia) atingiremos o topo do bioma, e a lactose insana não é
oriunda da vaca louca, mas uma referência ao moloko vellocet (Laranja
mecânica), leitinho ingerido para a prática da ultraviolência.
*Como
Pedro Luís conheceu meu trabalho? Eu fui a um show do Monobloco, em 2007, no
carnaval de Recife e, ao final do show, deixei um disco (o primeiro: Devoração
crítica do legado universal, só o protótipo num CDR, dentro de um envelope,
ainda não tinha o CD físico original) na mão de um segurança da banda e pedi
que entregasse diretamente ao Pedro, funcionou! O disco foi entregue (sou muito
grato ao segurança que eu não sei quem é até hoje) e, algum tempo depois, Pedro
Luís estava falando do meu trabalho. Network roots underground. No final de
2017, conheci-o pessoalmente em Maceió, num show que ele fez com Monobloco.
Pedro é um dos meu poetas favoritos.
FUZARCA DE NOWHERE
do nada, eu vou à balada
que é abalada, é impregnada
não empregue nada
nem espere que te cures
na fuzarca de nowhere, na balada de
nenhures
quem vai
querer, quem é que quer?
balada do
nada, fuzarca de nowhere
sem
compromisso, a não ser consigo
esforço, não
meço, eu consigo
sigo o
cruzeiro, sozinho no crowd
possibilidades
de balde
e de
bandeja, ora veja
cabeças e
corpos, copos e breja
a vida é
balada, sempre de virote
em busca de
um inabalável mote
sem norte,
sem sorte, também sem noção
hoje a
bússola navega pela emoção
tantas
substâncias me dão esperança
de um novo
dia que nunca se alcança
não dorme e
quer mais e quer mais
primeiro
tiro, saída do cais
do nada, eu vou à balada
que é abalada, é impregnada
não empregue nada
nem espere que te cures
na fuzarca de nowhere, na balada de
nenhures
aspirações,
cruzando monções
da calmaria
à tormenta, Camões
não
descreveria tais situações
de derrotas
que partem de convicções
que caem por
terra, vão por água abaixo
lá vem
novamente, eu despacho
o papo
comédia no qual não me encaixo
faço o meu
roteiro, pois não sou capacho
só estou
sujeito ou submetido
a situações
que eu tenha escolhido
arrependido,
eu aguento sozinho
na cabeça a
ressaca como um porco espinho
e ela só cura
com outra por cima
parece
mentira, mas esse é o clima
a balada
abalada, toda corrompida
e essa
fuzarca é minha vida
do nada, eu vou à balada
que é abalada, é impregnada
não empregue nada
nem espere que te cures
na fuzarca de nowhere, na balada de nenhures
me prove o
contrário, suicídio lento, legistas a postos
subterfúgio,
the walking dead, já estamos mortos
no propósito
de curtir, excessos são cometidos
comedidos
não somos, enchemos a lata e somos vencidos
nos
posicionamos como vencedores, senhores do próprio destino
portando uma
granada sem pino
entoando os
hinos e fazendo da vida uma ameaça
desde as
Grandes Navegações carregamos um vício: a trapaça
Fuzarca de nowhere é um trocadilho com arca de Noé, mantendo
a vibe histórica que envolve as navegações (Rumos e rumores, PQTRLV e Homero,
que antecedem esta faixa e também tocaram nesse assunto), aqui vai mais uma
música que menciona tal situação. Só que agora com um viés um pouco
diferenciado. Vou tentar explicar. Eu costumo dizer que Fuzarca de nowhere é
uma música para quem já passou dos 30 anos de idade (eu me encontro agora com
36), pois é aquele momento em que o indivíduo se encontra a questionar se toda
fuzarca da vida (baladas, curtições, festas etc.) vale a pena – pelo menos eu
passei a ver assim depois dos meus 30 –, e ela vem logo depois de Homero, que
exalta tal tipo de conduta, a curtição sem limites. Então aqui tentei
imediatamente quebrar esse ponto de vista com a metáfora da arca de Noé; não há
uma arca nas baladas para salvar, qualquer espécie que seja, do afogamento que
o dilúvio de falsas sensações de prazer/poder de uma noitada oferecem. Essa
navegação acaba sendo feita numa barca furada. A princípio, eu pensei em
Fuzarca de nowhere como título do disco, mas acabei optando por A invenção é a
mãe das necessidades pelo fato de dialogar, de certa forma, com a mesma
temática desta faixa, porém ampliando a discussão.
PESPALMA (f)eat Zeca Baleiro
pra tá ligeiro é necessário talento
bola lá pro
mato que é fim é de campeonato
futebol é
vida, a torcida veio aqui pra ver o gol
você é Sport,
eu sou MAC
você é
craque, eu também sou
tudo isso é
verdade, nada disso é puia
se a jogada
for suja, eu dou um banho de cuia
marcado, eu
driblo e deixo minha marca
a turma é
mermo boa, é mermo da fuzarca
vou assim,
vou acima e pra cima
voo rasante
ataca e intima
e legitima o
esforço
pois tudo é
canela abaixo do pescoço
não sou cabotino,
eu sou mesmo craque
chegoc’a
botina, roubo a bola e vou pro ataque
Nilton Santos
era enciclopédia? acompanhado eu sou biblioteca
mais um
fascículo do ludopédio, levanto a cabeça e passo a bola pro Zeca
pra tá ligeiro é necessário talento
bola lá pro
mato que é fim é de campeonato
futebol é
vida, a torcida veio aqui pra ver o gol
você é
Sport, eu sou MAC
você é
craque, eu também sou
de pé em pé,
a cada palmo, dá tempo
a bola sai
da cal, vai na palma do goleiro
maior
anti-herói, a história não inventou
pés, palma,
pés, palma
graças há se
Mateus quiser
felicidade é
o que Suassuna
disser, apois é, faz assim
eutô na
mesma linha, então, manda em mim
pelada,
baba, racha,catimba, quatro linhas
a terra é
redonda, pimba na gorduchinha
ô,
corneteiro, eu tô ligeiro, mas mesmo assim tu desacreditou
Leão da
Ilha, Bode Gregório e tu soltou o grito de “gooooooool”
A faixa PESPALMA traz a participação especial de Zeca Baleiro
e brinca em seu título com a sonoridade de pés e palma, e como a música é sobre
futebol, tudo a ver! Os pés dos jogadores de linha e as palmas dos goleiros que
defendem as metas. Mais adiante explicarei o porquê de fazer uma música sobre
futebol. Antes quero explicar porque o título saiu como uma sigla e não como
‘pés palma’. A sigla PESPALMA vem das siglas de quatro Estados: PE
(Pernambuco), SP (São Paulo), AL (Alagoas) e MA (Maranhão). Por quê? Porque eu
sou filho de pernambucanos e fui criado em PE, Zeca Baleiro fez o nome dele em
SP, porém eu nasci em AL e ele no MA. Daí o título da faixa. Sobre o tema,
decidi falar sobre futebol porque sou um apaixonado pela modalidade, porque
carrego comigo a frustração de não ter exercido o futebol profissionalmente e
pelo fato de ler uma crônica do Zeca em que ele falava sobre futebol e música e
demonstrava sentir falta de mais canções que versassem sobre o tema. Então
convidei-o para engrossar o caldo dessas canções na música brasileira que falam
sobre o ludopédio. Agora tá explicado aquilo que mencionei na resenha de PQTRLV,
eu torço pelo Sport por ter sido criado da mais tenra idade até o início da
fase adulta em Pernambuco, e Zeca fez questão de colocar na parte dele nesta
faixa a seguinte definição: “você é Sport, eu sou MAC (Maranhão Atlético Clube,
o time pelo qual ele torce – ele torce pelo Santos também, mas isso vocês
perguntem ao próprio), você é craque e eu também sou”. É isso. E eu achei por
bem colocar esta faixa logo após Fuzarca de nowhere porque o principal canto da
torcida do Sport diz: “a turma é mesmo boa, é mesmo da fuzarca”, então depois
daquela reflexão da faixa anterior de que a fuzarca não leva a lugar nenhum
(nowhere), o indivíduo volta a se render à fuzarca por meios futebolísticos. A
fuzarca futebolística é um alento quando não usada como opiáceo.
Conheci Zeca Baleiro através de Fernando Nunes (baixista dele,
que também já tocou com Cássia Eller). Eu havia conhecido Fernando em Maceió,
num workshop que ele fez sobre produção/gravação em estúdio, eu fui um dos
artistas selecionados para servir de “cobaia” em suas mãos. Produzimos uma
versão rap do hino de Alagoas. Depois disso, ele apresentou meu trabalho ao
Baleiro e, quando Zeca foi a Maceió se apresentar num show, apresentou-me
pessoalmente. Já me rendeu uma participação no show do Zeca Baleiro nesse dia.
Foi massa! Nunca tinha lidado até então com algo tão grande, participar do show
de uma referência é responsa!
BATATAS (f)eat Ellen Oléria
batatas ao vencedor
ao perdedor, nada
eu não quero pouco
eu quero muito
quero muito mais
como muitos no intuito
de dar o gás
e sair lá do escuro
e ver a luz
do outro lado desse muro
mas o meu caminho, por vezes obscuro
me faz às vezes um tanto que fortuito
jeitinho brasileiro, tudo acaba em
carnaval
honestidade por aqui é raridade, passa
mal
vamo de pizza? estrangeira ou
nacional?
metade de um sabor, metade de outro,
que tal?
desce no capricho e põe na conta, por
favor
a fatia traga quente e ponha a nota no
congelador
derrotado como muitos
preparado como poucos
para a perda, pro sufoco
me levanto, piso fundo
consciente, saio louco
com o olho no futuro
não é por nada não
certamente é por tudo!
já que griot, vai ter cabalah
saia da molecagem, cê vai ter que se virar
coro em manifestação
contra a corrupção
vestindo sua original camisa da seleção
tá aí!
num desce da ponte aérea, miséria faz
uma intéra
compra no precinho do dólar e satura a
classe média
eu também quero minhas batata, pá
quem acumulou, não chora, divide e
cala
batatas ao vencedor
ao perdedor, nada
eu já tô cansado, não me iludo
com esse papo que humilde é ser duro
eu quero é tudo, já disse e digo mais
bunda de fora não, eu quero calça de
veludo
não sou do bairro nobre nem do
subúrbio
habito o planeta Terra, cidadão do
mundo
ando no asfalto, também no barro duro
qualquer logradouro, no raso ou no
fundo
preste atenção, tome tento, chegue
junto
você tá com fome, mas pode encher o
bucho
carroça é pra burro, quero guiar no
fluxo
quem não quer sair do lixo e ir pro
luxo?
você pode ser servo ou pode ser Augusto
viver livre o ano todo ou só viver a
gosto
dos mandos e desmandos do comando
injusto
a mi no me gusta, eu mesmo não gosto
“sou senhor do meu destino, capitão da
minha alma”
um tropeço aqui não me causa trauma
só me impulsiona e eu já caio lá na
frente
e no rolamento me levanto rapidamente
batatas ao vencedor
ao perdedor, nada
Batatas é uma faixa que traz a belíssima participação de
Ellen Oléria, vencedora da primeira edição brasileira do reality The voice. Não
conheço Ellen pessoalmente, essa parceria foi firmada através da internet. Eu
participei de uma faixa do segundo disco do Sacassaia, grupo brasiliense, de
onde Ellen é natural, nesse disco, Boca da terra, ela também fez participação,
e no momento em que nos foi enviado um e-mail para uma primeira audição, antes
do álbum ser lançado, eis que esse e-mail veio coletivo, com o endereço visível
de todos aqueles que estavam recebendo a obra em primeira mão, e lá estava o
e-mail dela. Catei o e-mail, mandei um argumento daquele jeitinho e ela aceitou
participar do meu álbum. Fizemos tudo pela internet, enviei a música e ela me
enviou de volta os vocais maravilhosos.
Sobre esta faixa em si, Batatas faz uma referência a Machado
de Assis e seu personagem Quincas Borba, um filósofo que desenvolve uma teoria,
o Humanitismo, que tem como célebre frase lema: “ao vencedor, as batatas”.
Basicamente, a letra fala sobre isso, sobre batalhar para sobreviver. Quem leu
o livro, entenderá a analogia. Quem não leu, leia.
Outras referências que aparecem na letra: Lixo luxo, de
Augusto de Campos (“quem não quer sair do lixo e ir pro luxo? Você pode ser
servo ou pode ser Augusto”) e Invictus, de William Ernest Henley, poema que
inspirou Nelson Mandela (“sou senhor do meu destino, capitão da minha alma”).
É NOZ (f)eat Boby CH
é noz, é noz!
nós somos nozes
florescemos,
damos frutos com estilo
mas essa
floresta está cheia de esquilo
prontos pra
nos detonar
prontos para
nos quebrar
mas somos
casca grossa, não andamos de vacilo
temos quilos
de sabedoria dentro do invólucro
camuflamos, confundimos
o sistema óptico
temos a
carapaça
por dentro a
cinza massa
enquanto o
esquilo se disfarça como inócuo
em pele de
cordeiro, tremendo insidioso
quer quebrar
a casca, quer roer o osso
penso,
posso, faço
nunca vou te
dar o gosto
se quiser
filé, eu sou carne de pescoço
como já
dizia Vinícius de Moraes
reconhece-se
um amigo, amizade não se faz
bem
acompanhado
ando com
Gustavo
então,
esquilo, me esquece e me deixa em paz
é noz, é noz!
casca grossa de quebrar
nós somos nozes
somos
tatuadores, dançarinos, skatistas...
peculiares
num conjunto, destaque na pista
de dança, de
asfalto
nunca de
salto alto
na pele o
desenho representa o ativista
que
simboliza e expressa ele mesmo
símbolo de
expressão, emoção a esmo
não se
deslumbra fácil
mesmo num
palácio
vai pedir no
caldo uma porção de torresmo
o provérbio
diz, o provérbio mente:
deus dá
nozes a quem não tem dente
assim tu me
tira
tamanha
mentira
o que não
falta aqui é roedor de patente
disposto a
quebrar a minha casca
sugar o meu
tutano, tirar uma lasca
do que é
mais exímio
o meu
raciocínio
mas eu nem
esquento e tiro férias no Alasca
é noz, é noz!
casca grossa de quebrar
nós somos nozes
esquilos
querem se apropriar
com o seu
egoísmo
mas nós é
custo caro
grana não
compra o meu compromisso
minha
cultura não se vende, bate o pé
dispense com
seus papo rafamé
universos de
nozes, criação científica
a arte
universal dentro do gênio certifica
não venha
com sua saliência
por ter
minha sapiência
de querer
crescer, mas meu talento é resistência
somos frutos
da revolução
soldados
prontos pra atacar
minha mente
eleva, a arte prospera
onde você
não vai chegar
esquilo te
oferece a mão
pra roer
todo o seu brilho
te vê como
cifrão, nada é em vão
no descarte
pifado e batido
guerreiros
de quebrada
casca grossa
de favela
não gela nem
amarela
entre becos
e vielas
resistente
aos roedores
não estamos
à venda
veja bem,
senhores
hoje somos a
lenda, viva
é noz, é noz!
casca grossa de quebrar
nós somos nozes
É noz é um trocadilho com a expressão ‘é nós’, que tomou
proporções nacionais e atualmente todo território brasileiro faz uso dela. É
uma expressão que indica união entre semelhantes, entre pessoas que
compartilham os mesmos ideais. Pensando nisso, elaborei uma metáfora com a noz,
como se os resistentes a todas as mazelas sociais fossem nozes, e os inimigos,
aqueles que querem devorar o miolo das nozes, seu alimento preferencial, são
esquilos. Basicamente, a letra consiste nisso. E vem logo na sequência de Batatas,
para manter a ideia de resistência e luta pelo que se almeja. Convidei Boby CH,
artista alagoano de altíssimo nível no ragga, no dance hall e afins, para
participar, e ele chegou assim pesado com sua interpretação a respeito da
temática, mandando muito bem na estrofe que ele compôs.
Referências principais que aparecem na letra: Vinícius de
Moraes e Stephen Hawking (O universo numa casaca de noz).
AS AVENTURAS DE PI
todo mundo quer dançar, todo mundo
quer curtir
quem não quer extravasar, quem não
quer se divertir?!
então larga do meu pé, deixa de ser
cricri
porque hoje vão rolar as aventuras de Pi
sem zebra nem suco de laranja
entre hienas e tigres, a gente se
arranja
a noite é minha, sou eu quem esbanja
atração principal, não me venha com
canja
nem plágio, estágio é pra principiante
eu sou profissional, conheço fraude de
longe
prefiro antes o que faz sofrer com
prazer
a ter uma vida de monge
me conte sobre aquela sua postagem
de ontem, que clamava por liberdade
dono da verdade, disparou em seu blog
vem cá, você conhece Vladimir Herzog?
lute pelo seu direito de brincar
mas não brinque com o seu direito de lutar
todo mundo quer dançar, todo mundo quer curtir
porque hoje vão rolar as aventuras de Pi
não estaria a cantar se não fosse Zumbi
que decidiu lutar para me garantir
a vadiagem vai rolar num canto
banto-guarani
e só para constar o Haiti é aqui
e em todo lugar, fazendo a terra
tremer
vamo arrepiar, quem deve vai temer
a cobrança virá, virá que eu vi
não adianta chorar, ainda não morri
mas vou morrer de rir ao ver você se
borrar
quando concluir que eu não vou
colaborar
me espere aqui, vou ali, volto já
lutar pra festejar o meu direito de
lutar
porque com isso eu não brinco, levo à
vera
luto com afinco para poder brincar
2 e 2 podem ser 5, depende da matéria
prove sua tese e depois saia pra
comemorar
lute pelo seu direito de brincar
mas não brinque com o seu direito de lutar
todo mundo quer dançar, todo mundo quer curtir
porque hoje vão rolar as aventuras de Pi
As aventuras de Pi é uma faixa que já traz em seu título uma
referência cinematográfica e discute ao longo dela uma situação delicada, o
plágio. A princípio, a letra fala sobre o imbróglio causado pela obra As
aventuras de Pi, de Yann Martel, que teve uma belíssima adaptação para o
cinema, por ser um plágio de Max e os felinos, do escritor brasileiro Moacyr
Scliar. Então a primeira estrofe, basicamente, versa sobre isso, citando
metaforicamente os personagens d’As aventuras de Pi (“sem zebra nem suco de laranja,
entre hienas e tigres a gente se arranja”) e fazendo menção ao plágio (“eu sou
profissional, conheço fraude de longe”), além de citar o Moacyr indiretamente
(“prefiro antes o que faz sofrer com prazer”), pois tal nome é indígena –
citado em Iracema, obra de José de Alencar – e quer dizer ‘o que vem da dor’. O
refrão é bem simples, faz referência ao grupo Beastie Boys, grande influência
minha nos anos de 1990, eles têm uma música que se chama (You gotta) Fight for
your right (to party), que, numa tradução livre, diz que “você deve lutar por
seu direito de festejar”, e assim fiz menção no refrão desta faixa: “lute pelo
seu direito de brincar, mas não brinque com o seu direito de lutar”. Além do
próprio instrumental, que é uma homenagem ao hip hop dos anos de 1980/90, há
algumas outras referências/homenagens ao longo da letra, como Zumbi, Vladimir
Herzog, Gilberto Gil e Caetano Veloso (‘Haiti’ e ‘Um índio’, essa última também
cita José de Alencar, o que faz com que minha letra dialogue ainda mais com tal
referência) e “2 e 2 podem ser 5” referindo-se mais uma vez neste álbum à obra
1984, de George Orwell.
CORAGEM (f)eat Luiz de Assis
coragem
pra lutar, nós temos!
vontade para transformar, temos!
lutar pra transformar é tudo que queremos
conquistamos a mudança, não compramos nem vendemos!
vontade para transformar todos têm
porém, coragem para tal, quase ninguém
ficamos acuados quando nos coagem
e passamos a fazer aquilo que não nos convém
liberte-se das amarras, lute pelo bem
as celas estão cheias, assim como os armazéns
eu sei que tu consegues muito mais, ir além
pela lírica vendeta deixar de ser refém
vontade para transformar, temos!
lutar pra transformar é tudo que queremos
conquistamos a mudança, não compramos nem vendemos!
vontade para transformar todos têm
porém, coragem para tal, quase ninguém
ficamos acuados quando nos coagem
e passamos a fazer aquilo que não nos convém
liberte-se das amarras, lute pelo bem
as celas estão cheias, assim como os armazéns
eu sei que tu consegues muito mais, ir além
pela lírica vendeta deixar de ser refém
coragem
pra lutar, nós temos!
vontade para transformar, temos!
lutar pra transformar é tudo que queremos
conquistamos a mudança, não compramos nem vendemos!
vontade para transformar, temos!
lutar pra transformar é tudo que queremos
conquistamos a mudança, não compramos nem vendemos!
coragem
pra lutar é só querer pra poder ter
quero ver transformar, a vontade parte de você
que faz e vai direto, não pode deixar quieto
a conivência que avança e propõe o desafeto
da proposta ao concreto, não pode ser secreto
vontade e coragem não tem como não dar certo
quero ver transformar, a vontade parte de você
que faz e vai direto, não pode deixar quieto
a conivência que avança e propõe o desafeto
da proposta ao concreto, não pode ser secreto
vontade e coragem não tem como não dar certo
coragem
pra lutar, nós temos!
vontade para transformar, temos!
lutar pra transformar é tudo que queremos
conquistamos a mudança, não compramos nem vendemos!
vontade para transformar, temos!
lutar pra transformar é tudo que queremos
conquistamos a mudança, não compramos nem vendemos!
vingança cultural eu tenho pra vocês
agora é ultimato vou contar até três
1,2,3; fartura contra escassez
minha voz é a foz onde deságua minha vez
a tecnologia da leitura me fez
livrar-se de qualquer e toda mesquinhez
eu vou pra cima mesmo, aqui não tem timidez
minha sabedoria anula a estupidez
coragem
pra lutar, nós temos!
vontade para transformar, temos!
lutar pra transformar é tudo que queremos
conquistamos a mudança, não compramos nem vendemos!
vontade para transformar, temos!
lutar pra transformar é tudo que queremos
conquistamos a mudança, não compramos nem vendemos!
NA BASE
sem conversa mole, a conversa é
afiada
assim toca a U.N.I.D.A.D.E., inteira
afinada
na hora de falar, falo bem e falo muito
mas também quero te ouvir, esse é o meu intuito
o circuito é longo, mas sem curto circuito
o direito de se expressar é pleno, é gratuito
pode se manifestar, fala que eu te escuto
para evitar o luto, para isso que eu luto
se diz que tamo junto, tem espaço pra monólogo? (não!)
todo tipo de assunto, eu dialogo
na hora de falar, falo bem e falo muito
mas também quero te ouvir, esse é o meu intuito
o circuito é longo, mas sem curto circuito
o direito de se expressar é pleno, é gratuito
pode se manifestar, fala que eu te escuto
para evitar o luto, para isso que eu luto
se diz que tamo junto, tem espaço pra monólogo? (não!)
todo tipo de assunto, eu dialogo
todo e qualquer tipo de assunto,
amigo, eu dialogo
segue,
segue o fluxo
segue,
segue o curso
na base do diálogo
na base do diálogo
a viagem sai do nada para lugar
nenhum
parte sofisticada e cai num
lugar comum
ideias são trocadas, tremendo
zum-zum-zum
mas na hora da lapada não é pra
qualquer um
se envolve quem tem na agulha
argumento
mas ouça por bem, seja elegante
no momento
de deglutir, de aprender com o
outro
você ainda é novo, ainda é um
potro
ainda há muita estrada, uma
longa cavalgada
para guiar a carroça de tudo na
vereda do nada
segue,
segue o fluxo
segue,
segue o curso
na base do diálogo
na base do diálogo
a força da palavra modifica ou
agrava
ou enfia o pé na porta ou usa a
aldrava
posso machucar ou derramar
elogios
tudo através daquilo que eu
pronuncio
parar para pensar no que vai ser
falado
se eu dou minha palavra, vale
mais que um contrato
não é pela imagem que eu me
retrato
é pela linguagem que eu desacato
papo fiado só amanhã
jogue no mato, só na manha
só na manha, só na manha, sem
papo fiado
segue,
segue o fluxo
segue,
segue o curso
na base do diálogo
na base do diálogo
Na base também é uma letra bem antiga que eu só consegui
materializá-la agora neste disco. Também é uma letra bastante simples do ponto
de vista da objetividade a que ela se propõe. Ela fala basicamente sobre como
resolver todo e qualquer tipo de assunto na base do diálogo, evitar as mentiras
e procurar articular um discurso que seja pautado na troca, no aprendizado e no
incentivo à veracidade. No fake news, baby!
MANIFESTO PI
Manifesto Pi
eu, eis-me
aqui
de novo no
beat
tired ‘n’
sick
de tititi
digo o que
vi
se é que eu
vi
talvez déjà
vu
talvez
confundi
nem sei o
que houve
nem o que
ouvi
depende do
clima
que é criado
dado o fato
é inserido
outro boato
nochromakey
se queres
ouvir
depende de
ti
se dó, ré,
microfone aqui
quem vai
impedir
o meu
ataque?
o meu
ataque!
Manifesto Pi, Manifesto Pi
manifestando piamente o que tu não quer
ouvir
a mente não
mente
não para si
então
piamente não vou mentir
daqui não
saí
sempre
estive aqui
e sempre
bati
sempre de
frente
com a tal da
falsidade
que invade
auxilia
covarde
eu nunca
traí
o lema que
diz:
uma mentira
mil vezes
dita
é uma
mentira
mil vezes
maior
mas se faz
feliz
o que
ludibria
me diga
e eu faço
ainda melhor
me diga, me
diga
e eu faço
ainda pior
Manifesto Pi, Manifesto Pi
manifestando piamente o que tu não quer
ouvir
insatisfeito
fiquei com o
que
aconteceu,
sim
porém deixei
de
canto um
tempinho
pra refletir
parei,
concluí
melhor
sozinho
do que
seguir
pondo pingo
nos is
onde não
existe
foi o que
fiz
fiquei tão
triste
mas não
agredi
cabeça em
riste
bola pra
frente
se lembre
que
eu não
desisti
amigo, aqui
funciona
assim:
eu vou por
ti
tu vens por
mim
mas se
preferir
cada um por
si
nicetomeetyou
I am Vi P
Manifesto Pi, Manifesto Pi
manifestando piamente o que tu não quer
ouvir
Esta é uma letra, e música, que eu tenho um apreço especial.
Ela continua um ciclo que eu dei início no segundo disco (Pau-Brasil). É o
seguinte, lá no primeiro disco (Devoração crítica do legado universal), no
encarte, tem um texto meu intitulado U.N.I.D.A.D.E., que é o nome da minha
banda, então no disco Pau-Brasil eu compus uma letra que foi musicada sob esse
mesmo título, já lá no encarte do Pau-Brasil tem um texto meu intitulado
Manifesto Pi (mesmo nome do meu blog, que eu alimento desde 2009), e aqui, n’A
invenção é a mãe das necessidades, eu mantive esse ciclo de ter uma faixa no
disco seguinte com o título do texto do encarte do disco anterior. Além disso,
eu gosto da letra por ter uma métrica curta nos versos, o que traz muita
dinâmica vocal no flow, e praticamente todas as rimas são processadas na
sonoridade do ‘i’ (Pi, aqui, beat, sick, tititi etc.). O tema também é bem
reflexivo, fala basicamente de mentiras que são alimentadas em nosso cotidiano
frenético, reiteradas pelos meios virtuais através de fake news, e acaba
acompanhando a sequência temática sugerida anteriormente pela faixa Na base. O
ditado cunhado por Joseph Goebbels (“uma mentira contada mil vezes, torna-se
uma verdade”), ministro da propaganda na era Hitler, é confrontado aqui: “uma
mentira mil vezes dita é uma mentira mil vezes maior”.
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